A expansão do comércio europeu e o
contato com os outros povos
A expansão do cristianismo e do
comércio além-mar que os europeus dominaram amplamente a partir do século XV,
sempre trouxe consigo a dúvida que pairava na cabeça da elite europeia, sobre
se os ameríndios, asiáticos e africanos seriam seres humanos ou apenas animais,
uma subespécie. A nobreza europeia já trazia na sua estrutura social a ideia de
que os plebeus eram seres inferiores. Vale lembrar que muitos reis e nobres eram
ainda bárbaros, ou seja, ignorantes, analfabetos e sem muitos conhecimentos da
política de sua época. Quem mandava realmente então? O clero! Os cardeais,
bispos, arcebispos eram grandes estudiosos e dominavam na prática o cenário
político na Europa Medieval.
http://boilerdo.blogspot.com.br/2012/11/o-capitalismo-matou-milhoes-de-pessosas.html
Mais além, no séc. XIX, com o
avanço da ciência, escritores, cientistas e filósofos europeus passaram a desenvolver
teorias científicas para justificar os massacres em massa que as novas
potências econômicas (Bélgica, Holanda, Inglaterra, Alemanha, entre outros) estavam
promovendo na África, Ásia e Oceania. Os colonos frequentemente utilizavam de
violência extrema para ocupar territórios e submeter os outros povos: tortura,
estupro, linchamento, mortes gratuitas, trabalhos forçados até a morte, sem
poupar nem mesmo crianças e mulheres. A ciência passou a estar a serviço dessa
ocupação.
A esta época, o Reino Unido dominava o comércio de africanos escravizados
e, por isso, partiu deles iniciativa de acabar com este tipo de regime de
trabalho. E daí?
Em 1830 a expectativa de parte do
Império Britânico era que os 750 mil escravos “libertos” fossem se tornar
cristãos (vale lembrar, um cristianismo inglês e protestante, que diferia muito
de outros cristianismos, como o da própria Igreja Católica) e camponeses
trabalhadores agradecidos pela liberdade ofertada. Quem liderou a luta contra o
sistema escravista foram os missionários ingleses que fizeram a campanha pelas
suas igrejas, na Inglaterra e nas suas colônias. Na visão deles, os negros eram
irmãos inferiores, mas ainda assim irmãos.
Isso se tornou uma visão
superada, pois a ciência estava provando o contrário, que negros, ameríndios e
asiáticos eram mesmo seres inferiores e jamais atingiriam o nível civilizado da
raça branca. O comércio de crânios e ossos de seres humanos para fins científicos
era frequente entres ingleses, belgas, alemães, suecos, etc. A política
seguinte a essa brilhante conclusão científica era que essas raças inferiores
tinham de ser exterminadas, pois estes seres primitivos traziam consigo uma
violência intrínseca que ameaçaria a tranquilidade da raça branca civilizada. Os campos de concentração foram criados na África, multiplicaram-se na Ásia e atingiram o Leste europeu. Até chegarem aos judeus, muitos milhões (só na Índia, mais de 30 milhões) foram exterminados da mesma maneira brutal e desumana.
http://averdadeestampada.blogspot.com.br/2011/01/reducao-da-populacao.html
Na Inglaterra a escravidão
terminou em 1833. Nas colônias britânicas, isso representou para os escravos
pagarem taxas pelas cabanas miseráveis em que vivam e pagar impostos para a
Coroa. Para os proprietários das plantações de cana-de-açúcar representava que
a morte de um trabalhador não mais significava um prejuízo.
Com essa mudança no regime de
trabalho, a Grã-Bretanha saiu da escravidão para um império colonial mais
profundo e vasto, onde os povos inferiores ou se cristianizavam, ou eram
exterminados. Isso significa dizer que o fim do regime escravista representou,
primeiramente, um aumento vertiginoso da violência dos impérios contra os
outros povos do mundo, com a extinção de muitas sociedades.
Influenciados fortemente por essa
política inglesa, no Brasil, nossos políticos criaram a “política de
branqueamento” que consistia na imigração e utilização de mão-de-obra europeia,
e a consequente primeira reforma agrária do Brasil. Alguns brancos ganhariam
terras, os mais aptos sobreviveriam e ingressariam na sociedade brasileira, os menos
aptos se misturariam com os negros, mulatos e indígenas nos quilombos e favelas
Brasil afora! E seriam alvo de violências constantes durante os 2 séculos
seguintes.
CIÊNCIA E EUGENIA
O primo de Charles Darwin, Galton
Darwin, criou a Eugenia (a ciência para provar a superioridade da raça branca
pura) porque estava percebendo que as raças inferiores estavam se reproduzindo
mais que a raça superior, incentivando, então, a classe média britânica a se
reproduzir e jamais se misturar. Vale lembrar que praticamente todos os grandes
políticos das principais potências europeias, como o Winston Churchill,
Primeiro Ministro Britânico durante a Segunda Guerra Mundial, eram adeptos da
Ciência da Eugenia. Na Suécia, no século XX, em campos de concentração que
depois consagraram a política nazista na Alemanha, esterilizou-se à força 60
mil pessoas que tinham defeitos como síndrome de down, miopia, entre outras, que
prejudicariam a formação desta raça pura.
(Francis Galton, primo de Charles Darwin)
http://folhaestudantilcom.blogspot.com.br/2007/11/manipulao-gentica-benefcios-e-riscos.html
Apesar de muito difundida na
Alemanha e Grã-Bretanha, foi no EUA que a Eugenia perdeu o controle. Nos EUA,
27 Estados adotaram leis eugenistas, que proibiam negros e mestiços de se
casarem e de terem filhos.
No início do séc. XX os estados
do Sul adotaram leis de separação dos serviços públicos. Entre outras regras
estava que os negros não podiam encarar diretamente os brancos, sob pena de
serem presos e espancados.
Entre 1888 e 1927 cerca de 3500
negros foram linchados nos EUA. A igreja, o governo, os homens de negócio
faziam intensas propagandas propagando o medo. Prédios e casas dos negros eram
queimadas e destruídas e quem tentasse resistir poderia ser torturado durante
horas ou ver toda sua família morta. Álbuns de família frequentemente continham
fotos de negros torturados. A Ku Klux Klan, uma gang criada e sustentada por
juízes, médicos, políticos e outras pessoas influentes para matar e torturar
negros, no seu auge teve 5 milhões de membros com uma média de 2 linchamentos
por semana. O Presidente dos EUA, Harry Truman (45-52) era ex-membro da Ku Klux
Klan. Os soldados negros americanos que tinham retornado da II GM eram
linchados simplesmente por terem tido a ousadia de usar aquele uniforme. Teve-se
o registro, em 1946, da média de 1 linchamento por semana.
Movimento pelos Direitos Civis
E foi neste contexto de violência
extrema que surgiram grandes movimentos de resistência dos negros nos EUA, culminando
com o Movimento pelos Direitos Civis.
Grandes expoentes do movimento
pelos direitos civis: Marthin Luther King, Malcom X, Mohamed Ali, os Panteras
Negras...
Malcom X defendeu no início do
movimento uma resistência armada, protegendo e patrulhando os bairros negros,
contendo a onda de linchamentos por parte dos brancos. Mas obviamente os
policiais tinham um aparato militar muito maior e quando Malcom X passou a defender
uma resistência pacífica foi assassinado.
Marthin Luther King sempre foi
defensor de uma resistência pacífica e quando mais do que resistência, ele
passou a defender uma autonomia econômica da população negra, também foi
assassinado. E quando os negros passaram a reivindicar os direitos econômicos,
a violência policial aumentou ainda mais.
Malcom X
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O Apartheid na África do Sul
durou até a década de 80, a violência contra os negros continua até hoje e a
realidade econômica dos povos mestiços mudou muito. Mas já não existe a Ciência
da Eugenia; um presidente negro foi eleito nos EUA, onde Colin Powell e
Condoleezza Rice ocuparam o cargo de Secretário(a) de Estado.
No Brasil o STF pela primeira vez
tem um negro que está fazendo um trabalho diferenciadíssimo no Judiciário:
Ministro Joaquim Barbosa contra os juízes canalhas defensores das oligarquias
racistas, mostrando o lado intelectual do movimento pela igualdade dos povos, ao lado de intelectuais como o Geógrafo Milton Santos, o gaúcho formado em letras e um dos criadores do Grupo Palmares, o Oliveira Silveira, a desembargadora baiana Luislinda Valois e muitos outros. As cotas estão em todas as universidades públicas do país
beneficiando essa população mestiça que foi oficialmente considerada sub-raça
pela ciência até praticamente a década de 80, mostrando que a luta pelos
direitos civis (reconhecidos nas lutas contra a Ditadura Militar/Civil do
Brasil) ganhou espaço e culminou com a Constituição de 1988 que tem amplos
mecanismos de proteção a estes direitos civis, como a criminalização do racismo.
Hoje, a luta tem passado para uma luta pela autonomia econômica, que passa pela
erradicação da miséria, democratização das fontes de financiamento de políticas,
melhores salários e muito mais investimento em educação.
Oliveiira Silveira
http://www.geledes.org.br/atlantico-negro/movimentos-lideres-pensadores/afrobrasileiros/oliveira-silveira/853-biografia
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