quarta-feira, 6 de março de 2013

História do Racismo e a conquista dos direitos civis!


A expansão do comércio europeu e o contato com os outros povos

A expansão do cristianismo e do comércio além-mar que os europeus dominaram amplamente a partir do século XV, sempre trouxe consigo a dúvida que pairava na cabeça da elite europeia, sobre se os ameríndios, asiáticos e africanos seriam seres humanos ou apenas animais, uma subespécie. A nobreza europeia já trazia na sua estrutura social a ideia de que os plebeus eram seres inferiores. Vale lembrar que muitos reis e nobres eram ainda bárbaros, ou seja, ignorantes, analfabetos e sem muitos conhecimentos da política de sua época. Quem mandava realmente então? O clero! Os cardeais, bispos, arcebispos eram grandes estudiosos e dominavam na prática o cenário político na Europa Medieval.


http://boilerdo.blogspot.com.br/2012/11/o-capitalismo-matou-milhoes-de-pessosas.html



Mais além, no séc. XIX, com o avanço da ciência, escritores, cientistas e filósofos europeus passaram a desenvolver teorias científicas para justificar os massacres em massa que as novas potências econômicas (Bélgica, Holanda, Inglaterra, Alemanha, entre outros) estavam promovendo na África, Ásia e Oceania. Os colonos frequentemente utilizavam de violência extrema para ocupar territórios e submeter os outros povos: tortura, estupro, linchamento, mortes gratuitas, trabalhos forçados até a morte, sem poupar nem mesmo crianças e mulheres. A ciência passou a estar a serviço dessa ocupação.


A esta época, o Reino Unido dominava o comércio de africanos escravizados e, por isso, partiu deles iniciativa de acabar com este tipo de regime de trabalho. E daí?
Em 1830 a expectativa de parte do Império Britânico era que os 750 mil escravos “libertos” fossem se tornar cristãos (vale lembrar, um cristianismo inglês e protestante, que diferia muito de outros cristianismos, como o da própria Igreja Católica) e camponeses trabalhadores agradecidos pela liberdade ofertada. Quem liderou a luta contra o sistema escravista foram os missionários ingleses que fizeram a campanha pelas suas igrejas, na Inglaterra e nas suas colônias. Na visão deles, os negros eram irmãos inferiores, mas ainda assim irmãos.
Isso se tornou uma visão superada, pois a ciência estava provando o contrário, que negros, ameríndios e asiáticos eram mesmo seres inferiores e jamais atingiriam o nível civilizado da raça branca. O comércio de crânios e ossos de seres humanos para fins científicos era frequente entres ingleses, belgas, alemães, suecos, etc. A política seguinte a essa brilhante conclusão científica era que essas raças inferiores tinham de ser exterminadas, pois estes seres primitivos traziam consigo uma violência intrínseca que ameaçaria a tranquilidade da raça branca civilizada. Os campos de concentração foram criados na África, multiplicaram-se na Ásia e atingiram o Leste europeu. Até chegarem aos judeus, muitos milhões (só na Índia, mais de 30 milhões) foram exterminados da mesma maneira brutal e desumana. 

http://averdadeestampada.blogspot.com.br/2011/01/reducao-da-populacao.html

Na Inglaterra a escravidão terminou em 1833. Nas colônias britânicas, isso representou para os escravos pagarem taxas pelas cabanas miseráveis em que vivam e pagar impostos para a Coroa. Para os proprietários das plantações de cana-de-açúcar representava que a morte de um trabalhador não mais significava um prejuízo.
Com essa mudança no regime de trabalho, a Grã-Bretanha saiu da escravidão para um império colonial mais profundo e vasto, onde os povos inferiores ou se cristianizavam, ou eram exterminados. Isso significa dizer que o fim do regime escravista representou, primeiramente, um aumento vertiginoso da violência dos impérios contra os outros povos do mundo, com a extinção de muitas sociedades.
Influenciados fortemente por essa política inglesa, no Brasil, nossos políticos criaram a “política de branqueamento” que consistia na imigração e utilização de mão-de-obra europeia, e a consequente primeira reforma agrária do Brasil. Alguns brancos ganhariam terras, os mais aptos sobreviveriam e ingressariam na sociedade brasileira, os menos aptos se misturariam com os negros, mulatos e indígenas nos quilombos e favelas Brasil afora! E seriam alvo de violências constantes durante os 2 séculos seguintes.


CIÊNCIA E EUGENIA
O primo de Charles Darwin, Galton Darwin, criou a Eugenia (a ciência para provar a superioridade da raça branca pura) porque estava percebendo que as raças inferiores estavam se reproduzindo mais que a raça superior, incentivando, então, a classe média britânica a se reproduzir e jamais se misturar. Vale lembrar que praticamente todos os grandes políticos das principais potências europeias, como o Winston Churchill, Primeiro Ministro Britânico durante a Segunda Guerra Mundial, eram adeptos da Ciência da Eugenia. Na Suécia, no século XX, em campos de concentração que depois consagraram a política nazista na Alemanha, esterilizou-se à força 60 mil pessoas que tinham defeitos como síndrome de down, miopia, entre outras, que prejudicariam a formação desta raça pura.
(Francis Galton, primo de Charles Darwin)
http://folhaestudantilcom.blogspot.com.br/2007/11/manipulao-gentica-benefcios-e-riscos.html


Apesar de muito difundida na Alemanha e Grã-Bretanha, foi no EUA que a Eugenia perdeu o controle. Nos EUA, 27 Estados adotaram leis eugenistas, que proibiam negros e mestiços de se casarem e de terem filhos.
No início do séc. XX os estados do Sul adotaram leis de separação dos serviços públicos. Entre outras regras estava que os negros não podiam encarar diretamente os brancos, sob pena de serem presos e espancados.
Entre 1888 e 1927 cerca de 3500 negros foram linchados nos EUA. A igreja, o governo, os homens de negócio faziam intensas propagandas propagando o medo. Prédios e casas dos negros eram queimadas e destruídas e quem tentasse resistir poderia ser torturado durante horas ou ver toda sua família morta. Álbuns de família frequentemente continham fotos de negros torturados. A Ku Klux Klan, uma gang criada e sustentada por juízes, médicos, políticos e outras pessoas influentes para matar e torturar negros, no seu auge teve 5 milhões de membros com uma média de 2 linchamentos por semana. O Presidente dos EUA, Harry Truman (45-52) era ex-membro da Ku Klux Klan. Os soldados negros americanos que tinham retornado da II GM eram linchados simplesmente por terem tido a ousadia de usar aquele uniforme. Teve-se o registro, em 1946, da média de 1 linchamento por semana.

Movimento pelos Direitos Civis
E foi neste contexto de violência extrema que surgiram grandes movimentos de resistência dos negros nos EUA, culminando com o Movimento pelos Direitos Civis.
Grandes expoentes do movimento pelos direitos civis: Marthin Luther King, Malcom X, Mohamed Ali, os Panteras Negras...
Malcom X defendeu no início do movimento uma resistência armada, protegendo e patrulhando os bairros negros, contendo a onda de linchamentos por parte dos brancos. Mas obviamente os policiais tinham um aparato militar muito maior e quando Malcom X passou a defender uma resistência pacífica foi assassinado.
Marthin Luther King sempre foi defensor de uma resistência pacífica e quando mais do que resistência, ele passou a defender uma autonomia econômica da população negra, também foi assassinado. E quando os negros passaram a reivindicar os direitos econômicos, a violência policial aumentou ainda mais.





Malcom X 

Panteras Negras
 Marthin Luther King



O Apartheid na África do Sul durou até a década de 80, a violência contra os negros continua até hoje e a realidade econômica dos povos mestiços mudou muito. Mas já não existe a Ciência da Eugenia; um presidente negro foi eleito nos EUA, onde Colin Powell e Condoleezza Rice ocuparam o cargo de Secretário(a) de Estado.

No Brasil o STF pela primeira vez tem um negro que está fazendo um trabalho diferenciadíssimo no Judiciário: Ministro Joaquim Barbosa contra os juízes canalhas defensores das oligarquias racistas, mostrando o lado intelectual do movimento pela igualdade dos povos, ao lado de intelectuais como o Geógrafo Milton Santos, o gaúcho formado em letras e um dos criadores do Grupo Palmares, o Oliveira Silveira, a desembargadora baiana Luislinda Valois e muitos outros. As cotas estão em todas as universidades públicas do país beneficiando essa população mestiça que foi oficialmente considerada sub-raça pela ciência até praticamente a década de 80, mostrando que a luta pelos direitos civis (reconhecidos nas lutas contra a Ditadura Militar/Civil do Brasil) ganhou espaço e culminou com a Constituição de 1988 que tem amplos mecanismos de proteção a estes direitos civis, como a criminalização do racismo. Hoje, a luta tem passado para uma luta pela autonomia econômica, que passa pela erradicação da miséria, democratização das fontes de financiamento de políticas, melhores salários e muito mais investimento em educação.

Oliveiira Silveira

http://www.geledes.org.br/atlantico-negro/movimentos-lideres-pensadores/afrobrasileiros/oliveira-silveira/853-biografia

 Luislinda

http://g1.globo.com/bahia/noticia/2011/12/apos-8-anos-de-espera-luislinda-valouis-e-nomeada-desembargadora.html
 Milton Santos

http://liberdadeaqui.wordpress.com/2011/03/24/saudades-do-mestre-milton-santos/